Business Partner de Recursos Humanos: a trajetória da adaptação do modelo ao contexto brasileiro.

O modelo de Business Partner de Recursos Humanos (BPRH), concebido inicialmente por Dave Ulrich na década de 1990 nos Estados Unidos, trouxe uma ruptura importante para a forma como as organizações enxergavam a área de RH. O foco deixou de estar apenas em processos operacionais e burocráticos e passou a mirar a estratégia do negócio, por meio de um RH mais consultivo, próximo às lideranças e orientado a resultados.

No Brasil, a adoção desse modelo ocorreu de forma gradual a partir dos anos 2000, impulsionada pela chegada de multinacionais e pela necessidade das empresas nacionais em modernizar sua gestão de pessoas para competir em cenários cada vez mais globais. Grandes companhias de setores como mineração, telecomunicações, financeiro e tecnologia foram pioneiras na implantação, inspirando outras organizações a repensarem a função de RH.

Contudo, o BPRH brasileiro assumiu contornos próprios, distintos do modelo original norte-americano. Enquanto nos Estados Unidos a atuação do Business Partner se consolidou com base em estruturas organizacionais mais maduras, com processos de RH já descentralizados e forte cultura de métricas, no Brasil o modelo precisou ser adaptado a uma realidade marcada por estruturas hierárquicas rígidas, centralização de decisões e ainda uma predominância de práticas operacionais sobre o viés estratégico.

Diferenças entre o modelo americano e o brasileiro

No contexto norte-americano, o Business Partner é um papel essencialmente estratégico, atuando como consultor interno da liderança e influenciador direto nas tomadas de decisão de negócio. Ele opera com base em indicadores robustos de desempenho, alinhamento de metas e previsibilidade de cenários, tendo como premissa que as áreas de RH transacionais já estão automatizadas ou terceirizadas.

Já no contexto brasileiro, a realidade é híbrida. O Business Partner, em muitos casos, ainda carrega responsabilidades operacionais — como apoio em processos de admissão, desligamento ou gestão de benefícios — o que dilui seu tempo e energia em tarefas que deveriam estar descentralizadas. Além disso, a cultura relacional brasileira, baseada em proximidade e flexibilidade, fez com que o BPRH aqui se tornasse também um mediador de conflitos e apoiador emocional das lideranças, algo que extrapola o escopo original do modelo.

Enquanto nos EUA prevalece o enfoque em dados e resultados objetivos, no Brasil há uma maior valorização da dimensão humana e relacional, refletindo nosso estilo de gestão mais personalizado e menos formal.

Vantagens da adaptação brasileira

A tropicalização do modelo trouxe benefícios relevantes.

Entre eles, destacam-se:

• Proximidade com as lideranças e equipes: o Business Partner no Brasil construiu relações de confiança e parceria, fortalecendo sua atuação como ponte entre pessoas e estratégia.

• Flexibilidade cultural: a adaptação às especificidades do jeito brasileiro de trabalhar permitiu que o modelo ganhasse maior aceitação e fosse visto como um apoio prático, e não apenas como um conceito importado.

• Visão ampliada de gestão de pessoas: ao lidar tanto com aspectos estratégicos quanto humanos, o BP no Brasil desenvolveu um olhar mais holístico, essencial para contextos de alta complexidade.

Desvantagens e desafios

Por outro lado, essa adaptação também trouxe riscos e limitações. Entre os principais:

• Acúmulo de funções: o envolvimento com atividades operacionais reduz a capacidade analítica e consultiva do BP, comprometendo seu papel estratégico.

• Baixa maturidade em métricas: muitas empresas brasileiras ainda não dispõem de sistemas robustos de indicadores, dificultando a mensuração de resultados em gestão de pessoas.

• Dependência relacional: o excesso de foco no relacionamento pode gerar falta de objetividade e dificultar a tomada de decisões impopulares, mas necessárias.

O Business Partner de RH no Brasil é fruto de um processo de adaptação cultural e organizacional. Se por um lado a prática brasileira privilegiou vínculos humanos, flexibilidade e capacidade de mediação, por outro ainda enfrenta o desafio de consolidar-se como um papel estratégico baseado em dados, indicadores e influência no negócio.

A evolução do BPRH no Brasil depende de um equilíbrio: preservar a sensibilidade relacional característica do contexto brasileiro, mas avançar na construção de maturidade analítica e estratégica, de modo que o RH seja de fato um impulsionador de resultados organizacionais.

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